Pressionada pelas manifestações que tomam as ruas contrárias ao
projeto que retirava poderes de investigação do Ministério Público, a
Câmara dos Deputados derrubou nesta terça-feira (25) a Proposta de
Emenda Constitucional (PEC) 37.
A votação faz parte de uma agenda positiva criada pela Câmara para
responder aos protestos. Nos últimos dias, a proposta passou a ser uma
das principais reivindicações dos grupos populares. Foram 430 votos
contrários à medida contra 9 favoráveis e 2 abstenções.
O projeto previa que a condução de inquéritos criminais seria exclusiva
das polícias, enquanto caberia aos Ministérios Públicos federal e
estaduais apenas apresentar ações na Justiça ou arquivar as
investigações.
Os delegados de polícia e os deputados favoráveis à PEC 37 argumentavam
que é preciso dividir as funções para coibir abusos, enquanto os membros
do Ministério Público e a maioria dos parlamentares considerou que o
órgão pode fazer suas próprias investigações.
O impasse gerou uma disputa entre as categorias e chegou a ameaçar o
andamento de investigações. Com isso, em abril, a Câmara criou um grupo
de trabalho com representantes de policiais, do Ministério Público, do
governo e da Casa para trabalhar um texto alternativo. Não houve
consenso. O Ministério Público não aceitou apurar de forma
extraordinária, só quando tivesse risco para as investigações das
policiais.
Sem entendimento, o comando da Casa chegou a anunciar que a votação
seria adiada, mas com a mobilização social decidiu engavetar o texto.
Aos gritos de "rejeita, rejeita", centenas de procuradores e promotores
acompanharam a votação nas galerias do plenário. O presidente da Câmara,
Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), fez um apelo pela rejeição da
proposta porque "o povo brasileiro quer cada vez mais combate à
corrupção" e na defesa da ética. "É um ato de unanimidade derrotar essa
proposta", afirmou.
O líder do PSOL, Ivan Valente (SP), fez um dos discursos mais inflamados
e lembrou a pressão popular. "Foi o clamor das ruas que trouxe a PEC e
isso que vai derrubar. É isso que tem que ser valorizado. Não é a
vontade dos deputados. A pauta do Congresso não tem que ser pautada
pelas empreiteiras, pelos bancos, pelos interesses".
O PT recomendou a derrubada do texto, mas disse que vai discutir regras para a investigação.
Autor da PEC, o deputado Lourival Mendes (PTdoB-MA) afirmou que o debate
em torno do texto foi deturpado e que foi rotulada "indevidamente de
PEC da Impunidade". "Não tem nada de impunidade. Tem garantia do Estados
democrático de direito".
Ao final da votação, deputados e ocupantes da galeria do plenário cantaram o hino nacional.
REGRAS
Atualmente, promotores e procuradores de Justiça também fazem
investigações próprias, principalmente por meio dos chamados PICs
(Procedimentos de Investigação Criminal). Ocorre que esse tipo de
investigação não é regulamentada por lei, apenas por regras próprias nos
Estados ou regulamentação do Conselho Nacional do Ministério Público.
Para tratar dessa questão, a Câmara deve colocar em votação um projeto
que estabeleça normas para as investigações criminais, mas preservando a
atuação do Ministério Público.
Como o projeto foi escrito com o apoio da ANPR (Associação Nacional dos
Procuradores da República), PT e PSDB apresentaram textos semelhantes e
começaram a disputar a iniciativa. O PT, no entanto, disse que vai
propor essa discussão no segundo semestre. A ideia é distencionar o
debate e evitar a pressão popular.
O projeto prevê ação conjunta entre polícia e Ministério Público e
estabelece ainda que caberá à polícia fazer buscas e apreensões, por
exemplo.
Para o presidente da ANPR, Alexandre Camanho, um dos responsáveis pelo
projeto, a proposta responde a uma decisão do Supremo Tribunal Federal,
que cobrava uma regra para os PICs, e aos anseios de deputados e da
população.
"O projeto simultaneamente regula nossa atuação e contribui para a segurança jurídica em defesa da cidadania", disse Camanho.
"O projeto simultaneamente regula nossa atuação e contribui para a segurança jurídica em defesa da cidadania", disse Camanho.
Folha de Sao Paulo
FERNANDO MELLO
MÁRCIO FALCÃO
DE BRASÍLIA
MÁRCIO FALCÃO
DE BRASÍLIA
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