Longe de ser apenas mais um aniversário, a chegada dos 40 anos, para
alguns homens, é considerada um marco. A fase normalmente dá ensejo a
uma avaliação da vida pessoal. E, dependendo do resultado desse olhar
sobre a trajetória feita até ali, desconfortos, mágoas e uma tristeza
podem surgir. É a crise dos 40."Aceitar a aproximação da velhice, enxergar a finitude do ser ou
simplesmente analisar a vida que se leva, comparando-a com a que se
idealizava ter aos 20 anos, podem servir como um estopim para essa
crise", afirma Marcelo Quirino, psicólogo pela UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro).
A percepção de que o corpo já não tem o mesmo vigor da juventude
assusta. Nessa fase, é comum haver um discreto aumento nos problemas de
saúde, bem como mudanças no que diz respeito ao desejo e ao desempenho
sexual, aspectos que mexem diretamente com a autoestima masculina.
"É também nesse período que muitos homens observam o envelhecimento
dos próprios pais, têm de lhes prestar cuidados e, assim, percebem, de
forma crua, que o ser humano é finito. A crise da meia-idade é,
sobretudo, existencial, porque o homem toma clara consciência de que tem
menos tempo para viver", explica Reginaldo do Carmo Aguiar, psicólogo
clínico comportamental pela UFU (Universidade Federal de Uberlândia, em
Minas Gerais).
Outro fator importante é a relativa distância que se toma dos
filhos. É nessa fase que eles geralmente começam a deixar o lar, o que
pode provocar uma sensação de vazio, conduzindo mesmo os casais que se
dão bem a uma readequação da relação. Nos casais que já estão com
problemas, então, a situação pode se tornar ainda mais incômoda,
aumentando a insatisfação masculina.
Por fim, pesa sobre os homens mais maduros o preconceito social, já
que a nossa sociedade tende a valorizar a juventude em detrimento da
experiência. Um exemplo clássico é a dificuldade que encontram nessa
faixa etária para conseguir emprego, embora muitos tenham mais
conhecimento do que a maioria dos jovens. Em boa parte dos casos, o
preconceito parte, ainda, do próprio homem, que enxerga somente as
características negativas da velhice, sem olhar para as conquistas que
já fez graças à passagem do tempo.
Sinais claros
Para descobrir se está passando pelo problema, é importante ficar
atento a alguns sinais. Sentir uma certa insegurança por conta do avanço
da idade e dos novos desafios que estão atrelados a esse novo momento é
até normal. No entanto, limitar a sua atuação em qualquer dimensão da
vida, seja social, sexual, acadêmica ou profissional, por sentir-se
velho, frágil ou inferior, já é algo que merece ser olhado com mais
cuidado, de preferência com a ajuda de um psicólogo.
"Esses comportamentos podem indicar o início de uma depressão. Evitar sair de casa, recusar convites para reuniões de amigos ou notar uma queda no desempenho profissional são indicativos de que se está atravessando uma crise e que vale a pena pedir ajuda", diz o psicólogo Marcelo Quirino.
"Esses comportamentos podem indicar o início de uma depressão. Evitar sair de casa, recusar convites para reuniões de amigos ou notar uma queda no desempenho profissional são indicativos de que se está atravessando uma crise e que vale a pena pedir ajuda", diz o psicólogo Marcelo Quirino.
Também é comum que, na tentativa de se manterem jovens, alguns
homens adotem atitudes compensatórias, buscando resgatar o que
supostamente foi perdido com a chegada da maturidade. Isso pode
levá-los, por exemplo, a mudar o estilo de se vestir, com o intuito de
parecerem mais jovens do que realmente são e, assim, serem aceitos
socialmente. Trocar a mulher por namoradas mais novas ou frequentar
locais onde normalmente os mais jovens se reúnem são outras estratégias
comumente adotadas, sem que a pessoa tenha muita consciência de suas
motivações reais para as mudanças que está fazendo em sua vida.
"Em geral, ao se relacionar com pessoas mais novas, muitos homens passam a se sentir também mais jovens e fogem do modelo de comportamento das pessoas ditas senis, negando, de certa forma, seu processo natural de envelhecimento", diz Quirino.
"Em geral, ao se relacionar com pessoas mais novas, muitos homens passam a se sentir também mais jovens e fogem do modelo de comportamento das pessoas ditas senis, negando, de certa forma, seu processo natural de envelhecimento", diz Quirino.
Atitudes como essas, se ocorrem de forma isolada e não prejudicam a
qualidade de vida do homem, não devem ser consideradas preocupantes. "O
problema está no exagero, quando existe uma tentativa desesperada de
viver fora da realidade, de interromper de maneira infrutífera e
fantasiosa o fluxo natural da existência, utilizando-se, para isso, de
todos os recursos disponíveis", alerta Walter Cautella Junior,
psicoterapeuta pela USP (Universidade de São Paulo).
Oportunidade de crescimento
Oportunidade de crescimento
Para superar essa passagem natural da vida de maneira tranquila, o
psicólogo clínico Claudio Paixão Anastácio de Paula, professor da UFMG
(Universidade Federal de Minas Gerais), afirma que é importante
respeitar os próprios limites. Não se precipitar nem fugir à realidade,
mas viver cada momento de acordo com as suas possibilidades, tirando o
máximo proveito das situações e valorizando a experiência adquirida até
ali.
"Se o processo natural de envelhecimento nos tira algo, ele também nos traz novos recursos, elementos que nos ajudam a viver melhor com o que temos, e que só vêm com a experiência e a maturidade. O importante é saber reconhecer isso, mesmo vivendo em uma sociedade que supervaloriza a juventude".
"Se o processo natural de envelhecimento nos tira algo, ele também nos traz novos recursos, elementos que nos ajudam a viver melhor com o que temos, e que só vêm com a experiência e a maturidade. O importante é saber reconhecer isso, mesmo vivendo em uma sociedade que supervaloriza a juventude".
Em outras palavras, o que o especialista quer dizer é que todos os
ciclos da vida trazem vantagens e desvantagens, o que não significa que a
velhice implique necessariamente em um declínio. É só uma forma de
olhar.
Louise Vernier e Rita Trevisan
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