Logo no começo da atual edição do Big Brother Brasil, a participante Paula avisou: é trissexual. “Gosto de homens, mulheres e gays”, disse. Entre os colegas de confinamento, ninguém estranhou muito. Mas, entre os telespectadores, a declaração rendeu comentários e dúvidas: trissexual existe? “Em termos acadêmicos, não. É uma coisa de cultura popular. O terceiro sexo não existe, apesar de muita gente já ter defendido essa tese”, explica a psicóloga Adriana Nunan, autora de “Homossexualidade: Do Preconceito aos Padrões de Consumo” (Ed. Caravansarai). “A declaração quer dizer apenas que ela tem uma sexualidade mais fluida do que a maioria das pessoas”. E nada tem menos a ver com a fluidez do que um rótulo delimitador, como trissexual.
Junto e misturado: a "trissexual" Paula (à esquerda) dança com Michelly, que namorava um rapaz na casa, mas protagonizou o 1º beijo lésbico do BBB
Isso não significa que Paula não goste do que diz gostar. Apenas que nem sempre um gosto ou curiosidade definem a orientação sexual do indivíduo. Há zonas de experimentação e preferências que fazem parte da individualidade, mais do que do gênero ou de qualquer rótulo.
No mesmo BBB, a participante Diana – que diz gostar de “pessoas”, sem definir gênero ou orientação sexual – declarou que “não existem mais mulheres heterossexuais. Todas são curiosas”. “Uma coisa não tem nada a ver com a outra”, afirma o psicólogo Bruno Oliveira. “É claro que a heterossexualidade continua existindo, nos mesmos níveis que sempre existiu. O fato de alguém ter vontade de experimentar não define a sexualidade de ninguém”.
“Na verdade, dá para você gostar de qualquer coisa. A informação que temos sobre a sexualidade ainda é muito precária. Talvez ela goste de transar com gays por razões específicas. É um gosto”, diz Adriana. “Tem gente que gosta de sexo com mulheres, mas não de se relacionar com mulheres, por exemplo. É uma questão de gosto pessoal”.
Como Paula, a publicitária Janaína Motta, 27, já se relacionou com homens, mulheres e gays. Mas ri do termo “trissexual”. “Acho que ela estava brincando. Eu, pelo menos, não penso em mim mesma dessa forma. Sou heterossexual, até hoje só me apaixonei e namorei homens. Mas mulheres e gays já me despertaram desejo e eu experimentei. É bem simples, no fundo”, acredita.
Paula agarra Cristiano durante festa do BBB. Beijo na boca e declaração ao brother que virou objeto de desejo das confinadas
A simplicidade que Janaína enxerga é fruto de um ambiente de mais tolerância. “A experimentação hoje é mais livre sim, porque a sociedade está mais tolerante”, diz Adriana. “Mas isso não quer dizer que a homossexualidade está aumentando. Todos os estudos apontam que, ao longo do tempo e em diversas culturas, o índice de indivíduos homossexuais se mantém estável”, explica. “Homossexualidade não pega, não se aprende, nem se ensina”.
Papo
Mas, da mesma forma que as pessoas tendem a exagerar quando falam sobre o próprio desempenho sexual, é possível que nem sempre sejam fiéis ao falar da variedade de suas experiências. “Não posso falar que seja o caso dela (Paula), mas o que me preocupa é que, nesse tipo de programa, as pessoas estão tentando chamar a atenção de qualquer forma. Então acabam falando um monte de besteiras e confundindo as pessoas”, diz Adriana.
Isso, é claro, não se restringe aos reality shows. “Existem pessoas que são inseguras e tentam passar a imagem de uma sexualidade mais fluida. Porque acham que ser hetero é tradicional demais, sem graça”, afirma a psicóloga. “Mas, geralmente, as pessoas que fazem mais, falam menos”.
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