quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Moradores fazem jus a cabeça de pacu

Pessoas que saíram de Cuiabá para estudar, seguir carreira profissional ou pelo sonho de morar à beira mar revelam porque voltam à cidade
Antônio e a família foram para Natal, moraram a metros da praia, mas jamais perderam o vínculo com a capital .
Não há estudo científico, mas o costume popular cuiabano atribui efeitos místicos à cabeça de pacu, peixe típico do rio Cuiabá. A lenda diz que aquele que nasceu ou morou na capital mato-grossense por um determinado período e comeu cabeça de pacu, dificilmente conseguiria viver longe da terra descoberta por Pascoal Moreira Cabral. Verdade ou não, essa crença se encaixaria perfeitamente na história de muitos cuiabanos de nascimento ou adoção que, por diferentes motivos, se mudaram para grandes centros onde vislumbrariam carreira promissora. Ou, ainda, para lugares paradisíacos, à beira mar, capazes de causar inveja a qualquer mortal. O professor de física, Antônio Moreira de Barros, 50 anos, cuiabano de “tchapa e cruz”, sentiu uma paixão avassaladora pelo mar na primeira viagem que fez ao Nordeste, onde participara de um congresso sindical. Funcionário público federal (do Cefet), com carreira estável, anos depois ele conseguiu realizar o sonho de morar na praia. Junto com a mulher, Maria José da Silva, 37 anos, e o filho Rafael, na época com apenas oito meses, mudou-se para a cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, acreditando que somente voltaria a Cuiabá a passeio, para rever parentes e amigos. Durante sete anos, moraram na praia recebendo a brisa refrescante do mar, e por outros oito anos, no perímetro urbano da cidade. Caminhavam na praia, tomavam banho de mar e tinham peixes e crustáceos das mais diversas espécies ao alcance. Mesmo assim, segundo o professor Moreira, não conseguiram tirar Cuiabá dos pensamentos. “Ah, o peixe daqui é bem mais gostoso”, observa Maria José. Moreira contou que em Natal fizeram muitos amigos, viviam com a casa cheia, mas mesmo tendo vendido os bens que adquiriram em Cuiabá, como casa e carro, devagar começaram a replanejar a viagem de volta. Este mês completa um ano que o casal e o filho Rafael voltaram. E no mês que vem, Moreira e Maria planejam se mudar para a casa nova, que compraram e estão reformando. E, o mais importante, não querem mais sair de Cuiabá, exceto a passeio, para rever os amigos potiguares. A radialista recifense Vânia Marques Marcondes acredita que uma força maior, algo para o qual ainda não conseguiu explicação, a mantém em Cuiabá. Ela, que esteve na capital cuiabana pela primeira vez em 1988, diz: “já saí daqui quatro vezes e sempre acabo voltando”. Enquanto era solteira, foi embora três vezes. Depois de casada, convenceu o marido, Diógenes Marcondes, que poderia ser bom se mudar para Recife. E mais uma vez estão de volta. O casal passou apenas um ano e oito meses na capital pernambucana. Dona de uma pousada paradisíaca à beira mar, a mãe de Vânia, dona Socorro, não consegue entender a paixão da filha por Cuiabá. “Todas as vezes que eu me mudava sentia saudades daqui, como se fosse minha terra natal”, justifica a radialista. Além disso, na avaliação dela, Cuiabá ainda é uma cidade promissora profissionalmente. Para ela, nem o calor que tanto a incomoda, a fará se afastar daqui. Vânia, que chegou há somente dois meses, disse que como de todas as outras vezes, acha que retornou para sua verdadeira casa, “o lugar onde nasci”.
Geraldo Tavares- Diario de Cuiabá

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