terça-feira, 6 de agosto de 2013

O outro não entende o que você fala?


:: Rosana Braga ::
Talvez você viva com a impressão de que fala chinês com certas pessoas. Sabe quando você diz o que pensa e sente e o outro reage como se você não tivesse dito nada ou, pior, como se tivesse dito exatamente o contrário? É óbvio que uma relação onde a comunicação é tão distorcida se torna tensa, difícil, cheia de conflitos e frustrações.

A questão é: você acha que está sendo claro, objetivo e direto, mas na prática, o que parece é que não está... Ou, por alguma razão, o outro não está conseguindo entender ou validar o que você diz. Validar você. Seus valores e seus desejos. E pode ser que ele nem se dê conta de que está agindo assim. Mas pode ser que ele se dê conta, sim. E continue te ignorando.

Por quê? O que será que você precisa fazer para ser compreendido? Não estou falando de ser obedecido, pois a ideia aqui é tratar de relações onde os dois sejam ouvidos e respeitados. Então, como ser ouvido e respeitado?

Se você se sente assim ou conhece alguém que se sente assim, repare: quando uma pessoa não é ouvida e respeitada pelo outro, é muito provável que nem ela esteja conseguindo se ouvir e se respeitar. Ela fala, mas não age de acordo com o que fala. Ela cobra do outro um comportamento que ela não consegue ter. Ela espera que o outro lhe dê o que nem ela mesma consegue se dar.

É mais ou menos assim: as pessoas costumam nos tratar de modo muito parecido com o modo com que nós mesmos nos tratamos. Se você se trata bem, se respeita, se considera, se valoriza e se gosta, é bem provável que o outro vai te tratar assim também. Mas se você pede respeito ao outro, mas não se respeita e nem respeita o outro, daí vai ficar difícil.

Por exemplo: você vive reclamando que faz tudo pelos outros, que cuida, acolhe, ouve, ajuda e tal... mas quando precisa de algo, não encontra ninguém disposto. A primeira observação a ser feita é: você se ajuda? Mas não estou falando de se ajudar quando sua vida já se tornou um caos. Estou falando de se ajudar para que o caos não aconteça. Estou falando de se priorizar algumas vezes. Estou falando de reconhecer seus limites e os limites do outro. E de saber que você tem de cuidar, antes, da sua própria vida. Para somente então, de bem consigo mesmo, poder ajudar o outro a cuidar da dele. Desde que ele queira e peça ajuda, claro! Se não, não é ajuda, é intromissão.

Nos relacionamentos, essa dinâmica de um ajudar muito o outro e o outro não estar disposto a ajudar é bastante comum. Mas, veja, não tem essa de bonzinho e malvado, vítima e algoz. O que tem é o lugar que cada um aceita ocupar na relação. Se você vive sendo bonzinho, então, não reclame quando só sobrar ao outro o lugar de malvado.

O segredo está no equilíbrio. Bonzinho e malvado são dois extremos de muitas possibilidades. Se você sempre faz, sempre se oferece para ajudar, sempre corre e resolve os problemas, então, para que o outro vai fazer? Ele já sabe que você gosta deste lugar de faz-tudo, sabe-tudo, resolve-tudo. Ele não precisa mais ocupar esse lugar porque o lugar já está muito bem ocupado - por você! Agora, se você faz de vez em quando, mas em outras ocasiões, deixa que o outro faça ou até pede para ele fazer (e espera até que ele faça!), então os lugares poderão ser alternados, dando mais conforto e prazer para este encontro.

Muitos casais vivem dinâmicas radicais, onde um organiza e o outro bagunça; um trabalha e o outro se diverte; um é submisso e o outro, dominador; um sempre cede e o outro sempre exige. E depois de alguns anos, um não suporta mais o outro. Em geral, o bonzinho se revela um grande chato e mal humorado e o malvado se revela um grande folgado e sem noção. E o que era amor vira tristeza, raiva e destruição mútua.

Que tal começar a cuidar agora da dinâmica instituída na sua relação? Ora você ajuda, ora você se deixa ser ajudado. Ora cede, ora se impõe. Tudo isso pode ser feito com respeito por quem o outro é. E, sobretudo, com respeito por quem você é!

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