segunda-feira, 29 de abril de 2013

Você se liga nas aparências?

 

"Enfatizando as aparências, não percebemos a realidade. Prestando muita atenção a nomes e reputações podemos olhar, mas não ver".
(Tsai Chih Chung)

Um dos motivos de algumas pessoas procurarem ajuda psicoterapêutica é o sentimento de vazio provocado por um olhar superficial sobre a vida. Desta forma, ao esquecer o profundo, perdem tempo para os aprendizados, pois ficam limitados à visão linear que a experiência vital lhes proporciona. Até o momento que percebem a necessidade de visualizar o que antes não viam a partir de si mesmos.

Nesta direção, a cultura do mundo ocidental, de modelo consumista e competitivista, ajuda a promover valores que cultuam as aparências acima do que realmente elas valem para garantir ao indivíduo uma vida materialmente confortável.

Desta forma, negligencia-se o outro lado da vida, a transcendência, que deveria ser valorizada porque representa, acima de tudo, o autoconhecimento, ou seja, o descobrimento de si mesmo diante do outrem e do universo.

A percepção linear, unilateral da vida, encontra-se na forma de como captamos, através dos orgãos dos sentidos, aquilo que nos interessa da realidade circundante em conformidade com o código de valores e crenças que trazemos internalizado.

Neste processo inconsciente de captação, codificação e representação daquilo que realidade nos informa, forma-se uma mentalidade, que é o conjunto de costumes, crenças, hábitos intelectuais e disposições psíquicas de um indivíduo ou de um grupo.

Plasmamos a nossa realidade, segundo o que elaboramos psiquicamente através de impressões e representações do que é captado pela sensorialidade atrelada ao conjunto de valores e crenças. Sem percebermos com os "olhos de ver e ouvidos de ouvir", tornamo-nos cativos de si mesmos. Limitados a uma visão egocêntrica de mundo, onde o superficialismo das relações interpessoais, inclusive, familiares, tornam o fardo da vida mais pesado devido à densidade da energia que emitimos e atraímos.

Ao trazermos traços de caráter e sentimentos de outras vidas, esta energia mistura-se às experiências infantis da vida atual. A associação destas energias é responsável pela forma de como conduzimos a própria vida na fase adulta, onde a experiência do equilíbrio ou do desequilíbrio psíquico-espiritual representa a síntese do ciclo reencarnatório de cada indivíduo.

Neste contexto existencial, os desequilíbrios refletem a "cegueira" do indivíduo submisso a um padrão comportamental que praticamente não sofre alterações com o passar dos séculos. Paradigma no qual encontramos processos obsessivos de origem anímica e espiritual que repetem-se vida após vida devido a um conjunto de escolhas.

Nesta condição, ao emitir e atrair energias afins, o indivíduo fica suscetível às doenças do corpo físico e da mente, e com ressonâncias comportamentais através do surgimento de transtornos, síndromes e distúrbios próprios do indivíduo em descompasso com a sua caminhada evolutiva.

No entanto, o mesmo não ocorre com o indivíduo em situação de equilíbrio psíquico-espiritual, que desperta para os significados da vida através de um olhar que alarga horizontes e liberta-o do cativeiro de si mesmo, além de torná-lo energeticamente imune a um conjunto de doenças que afetam corpo e alma.

Vida de aparências representa atraso no relógio existencial de cada indivíduo, pois abre uma porta para a entrada de energias deletérias como o orgulho, a vaidade exagerada, o egoísmo, a inveja, a ambição desmedida e tudo que vai a reboque destes, como o preconceito, a discriminação, o julgamento, as injustiças, a calúnia e a futilidade, entre outros.

Na esteira de uma vida de aparências, encontramos os "grandes vazios" que assolam a humanidade, como  as guerras, as endemias, a fome e, principalmente, o sentimento de ódio, que, dissimuladamente ou não, revela o lado perverso do homem.


A aparência, visualizada pelo prisma interdimensional da existência humana, reflete um estado letárgico do espírito reencarnado. Condição que até pode projetá-lo no âmbito do poder. Porém, o que fica em evidência é o ego de valorização restrita às ressonâncias mundanas, e não o eu de valorização irrestrita para as leis que orientam a vida inteligente no universo.


Neste sentido, Carl Gustav Jung alerta-nos em seus escritos que "se o lado sombra de uma pessoa for reprimido e isolado da consciência, ele nunca será corrigido. O fato de enfrentar o nosso calcanhar de Aquiles é um ato de bondade, não importando quão dolorido o processo possa ser. Para nos aventurarmos no escuro, precisamos de tremenda coragem e um grau considerável de autoaceitação. Devemos reunir todos os poderes da iluminação que a consciência puder oferecer".

Portanto, despertar do sono letárgico que envolve o mundo das aparências, é o desafio do indivíduo que procura o foco de sua própria consciência. Energia que ilumina o caminho daqueles que buscam a verdade de si mesmos inseridos em um macrocontexto de permanente sintonia com o UNO.


Flávio Bastos - flaviolgb@terra.com.br

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