sábado, 27 de abril de 2013

Trabalhar ou ficar em casa? Como lidar com as escolhas na criação dos filhos




Os dilemas da mãe moderna

Babá ou berçário? Trabalhar ou ficar em casa? Como lidar com as escolhas do dia-a-dia na criação dos filhos

Da alimentação dos bebês à decisão pela melhor escola, educar os filhos é a prática diária de enfrentar dilemas e fazer escolhas. Lidar com essa situação é uma das maiores causas do estresse feminino, mas a única forma de enfrentá-las é aprender a conviver com elas.
Para quem quer ser uma ‘boa mãe’, o que não faltam são razões para se preocupar. Devo diminuir os refrigerantes e salgadinhos? Insistir em lanches saudáveis? Será que a babá foi a melhor opção ou teria sido melhor deixar aos cuidados da avó? Deixar chorando no berço ou pegar no colo? Proteger ou liberar, como decidir?
Para a psicóloga Isabel Leal, professora do Instituto Superior de Psicologia Aplicada, a maternidade sempre foi um espaço complexo e, nos últimos 50 anos, graças aos avanços tecnológicos, à investigação psicológica e à profissionalização da mulher, essa complexidade aumentou e a própria concepção de mãe foi profundamente alterada.
“Passou-se da família alargada à família nuclear e, desta, à família monoparental. Passou-se da mãe doadora de afeto à mãe prestadora de cuidados e, desta, à mãe culpabilizada por tudo o que acontece ou não ao seu filho”, diz Isabel.
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Pais devem aprender a aceitar os filhos como eles são

Hoje, muitas mulheres estão vivendo a maternidade como se tivessem superpoderes para o bem e para o mal sobre a vida dos filhos. Neste cenário de ‘supermulheres’ e com os dilemas que esse ‘espaço complexo’ impõe todos os dias, a mãe que deseje apenas ser amorosa e justa, responsável e educadora, continuará padecendo com as decisões sobre o que é, de fato, melhor para seus filhos, para sua família e para ela própria. E, como consequência, estará submetida diariamente ao estresse.
“A constância do estímulo estressante tem consequências danosas ao organismo e, por isso, a tendência do indivíduo é elaborar estratégias para tentar resolver problemas ou, no mínimo, para se adaptar da melhor forma possível às exigências do ambiente”, afirma a psiquiatra Alexandrina Meleiro, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP).
Em outras palavras, deixar o filho na escola em período integral talvez não seja a solução ideal, mas pode ser a estratégia mais adequada diante da necessidade de trabalhar em expediente integral.
No entanto, se essa decisão não é tomada de maneira consciente e a mãe se sente pressionada, culpada ou infeliz, não dá para dizer que houve, de fato, uma adaptação. “Quando a estratégia não é eficaz, o organismo não reage convenientemente e surgem os sinais de cansaço e de estresse”, explica a psiquiatra.
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Talvez a melhor estratégia seja aprender a conviver com o fato de que nem sempre a mãe vai conseguir tomar a decisão correta, reconhecer que ser uma mãe boa o bastante é melhor do que ser uma supermãe e treinar o coração para viver com as próprias escolhas.
Veja cinco estratégias para lidar com grandes dilemas da maternidade hoje:
1) Da porta para fora
Um dos conflitos mais típicos já é quase um clássico: ficar em casa ou sair pra trabalhar. Durante muitos anos, a única forma de resolver esse dilema era seguir o modelo tradicional de mãe dedicada integralmente aos filhos.
Provavelmente a mãe nos anos 1930 também reclamava da jornada de trabalho e também estava cansada à noite pra contar histórias de ninar. Uma das diferenças, contudo, é que a mulher que hoje trabalha fora chega em casa “contaminada” pelo estresse das ruas: trânsito, poluição, mau humor do chefe. Fica difícil resgatar o lado doce, carinhoso e cheio de disposição.
Aprender a se dividir é a alternativa mais honesta consigo mesma e com os filhos: se as crianças conseguem aceitar que o tempo que a mãe sai para trabalhar não é delas é justo que elas queiram que as coisas do trabalho fiquem do lado de fora durante o tempo em casa.
2) Foco na criança
Mães acreditam que ninguém no mundo irá cuidar tão bem de sua cria quanto elas próprias – e têm razão, na maioria das vezes. Para lidar com o dilema de deixá-los ou não aos cuidados de outro, ajuda pensar que o que você delega é o cuidado, não a maternidade. Mesmo quando não está por perto, quem precisa ter o controle das decisões é a mãe. A mulher que trabalha e precisa deixar seu bebê com a babá, a avó ou na creche, não pode perder de vista exatamente isso: é ela, a mãe, quem está no comando.
Também é preciso lembrar que nenhuma dessas opções é isenta de prós e contras e que mudar de rumo e estar disposta a rever decisões faz parte de saber lidar bem com dilemas. A babá está abaixo das suas expectativas? Troque pela creche. Tem problemas com o horário? Considere negociar isso no seu trabalho. Não há negociação? Peça ajuda aos familiares.
3) Criá-los para o mundo
Chega um momento que até a mais superprotetora das mães sente que é hora de soltar as rédeas. Cabe à mãe dosar o controle e a liberdade e aí reside um dos segredos da maternidade: dar o limite ou tirá-lo como forma de amor.
Um dia é o “não”, no próximo é o “você que sabe”, não existe uma regra para dosar o quanto de liberdade e o quanto de proteção é ‘correto’ dar. Há o bom senso e a atenção diária que permite a uma mãe compreender seu filho e aceitá-lo com suas potencialidades e limitações.
4) Erros e acertos
Tem aqueles dias em que, apesar de toda a boa vontade e experiência de vida, a paciência acaba. Nesses dias a lição de casa dos filhos parece impossível, a manha na hora de dormir interminável, a malcriação insuportável... e aí, você explode, briga, fala o que não deve. E agora, como enfrentar o dilema de querer ser a melhor mãe e não se achar uma boa mãe?
Um bom início é admitir que ninguém é a melhor mãe do mundo e que cada mãe é apenas a melhor mãe que consegue ser. A complexidade da maternidade consiste em permanente educação e isso inclui fazer do erro uma lição. Errou com seus filhos? Peça perdão, explique os motivos e redobre o carinho. Filhos aprendem com os exemplos dos pais e uma lição sobre como admitir o próprio erro vale muito, muito, na sua história como mãe.
5) Em grupo é mais fácil
Nossas ancestrais já sabiam que em grupo são mais fortes e competitivas. Uma mãe será tanto melhor quanto ela puder compartilhar as preocupações com os cuidados de seus filhos: o pai, alguém da família, uma amiga. Da troca de experiências e de visões nasce a sugestão que ajuda a resolver o problema, brota o conforto e os vínculos se fortalecem. Sem falar que poder contar com alguém por perto é um consolo e um alívio – especialmente para os instantes em que a mulher precisa colocar os pés para cima e curtir o merecido descanso.

Adília Belotti e Drica Arantes , especial para o iG São Paulo 

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