quarta-feira, 2 de abril de 2014

Você quer ter razão ou quer ser feliz?

"Enquanto sua vontade for ter razão, o autoritarismo será o caminho mais rápido e fácil. No entanto, se desejar ser feliz, há uma longa trajetória de reflexão e mudança à sua frente". Falar sobre autoritarismo nesse momento parece apropriado, afinal, estamos no mês em que o golpe militar que deflagrou o período ditatorial no Brasil completa exatas cinco décadas. Mas não quero falar sobre regimes ou governantes. O meu assunto é comigo mesma - e com você, se quiser refletir sobre os seus próprios sentimentos e comportamentos em relação ao assunto.

O dicionário relaciona a palavra 'autoritário' aos adjetivos altivo, impositivo, dominador, e, também, arrogante, impetuoso, impulsivo, violento. E, para ser sincera, muitas dessas características eu encontro em mim. Em maior grau em algumas situações, quase imperceptíveis, em outras.

Como (talvez) a maioria das pessoas, tive pais autoritários. Criados eles próprios sob um sistema autoritário, acreditavam que criança não tinha querer. Ou seja, papai e mamãe têm sempre razão e não podem e nem devem ser questionados. Então, aprendi que, quando crescesse, eu deveria ser como eles. Porém, os tempos mudaram.

Se no campo social e político muitos homens e mulheres alteraram o cenário das nações e fizeram com que a democracia se tornasse possível, no campo pessoal e emocional o que eu faço com o meu aprendizado infantil, que foi fundamental na formação da minha personalidade adulta? O que faço com o inconsciente autoritário que foi construído? Será que, para conseguir aquilo que almejo, devo continuar a ser autoritária, impetuosa, impositiva, violenta? Ou posso escolher outras atitudes que talvez me tragam mais rapidamente o que quero na relação com as pessoas?

Enquanto eu quiser controlar a ação dos outros para que tudo saia do meu jeito, o autoritarismo prevalecerá. Mas, se eu puder pensar que somos todos iguais e desejamos as mesmas coisas para as nossas vidas, deduzo que o que queremos, como seres humanos, é que sejamos aceitos e amados. Como grupo, nação ou indivíduos, queremos ser reconhecidos pelo nosso valores e como seres que habitam o mesmo planeta, queremos a paz.

Não serei capaz de me amar e de me aceitar se isso for uma imposição. Consequentemente, não oferecerei ao meu País as minhas melhores qualidades se estiver ora gastando energia para impor minha vontade, ora confrontando o autoritarismo do outro. Como cidadã do mundo, não posso fazer a paz se houver guerra dentro de mim.

A saída talvez esteja na consciência da sua própria história, no perdão dos seus próprios erros e na construção de um novo caminho, que começa por reconhecer onde estamos e quem somos, com honestidade e abertura. Do meu ponto de vista, o começo da mudança pode ser a reflexão e a aceitação de que todos nós temos o autoritarismo como caminho aprendido, mas que pode ser transformado se nós quisermos.

Não quero dizer que esta é a única saída, nem que é a mais fácil. Mas é nela que, por enquanto, eu acredito. Então, não posso deixar de convidar você a pensar comigo: você quer ter razão ou quer ser feliz? Enquanto sua vontade for ter razão, o autoritarismo será a maneira mais rápida e fácil de garantir isso. No entanto, se você quiser ser feliz, há um longo caminho de reflexão e mudança à sua frente e milhões

Um comentário:

  1. Eu, pelo meu lado, decidi que não quero ter razão, prefiro “ser feliz”, como disse o mestre Rubem Alves em seus escritos O tempo e as jabuticabas: ”... Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado do que é justo. Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo. O essencial faz a vida valer a pena”.

    Augusto Mario

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