quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Casos de assombração fazem parte do imaginário cuiabano


História da 'Namorada do Além'
Era noite de sexta-feira, dia 13. Alcebíades, um jovem carioca, comemorava o carnaval em um baile no Clube Feminino de Cuiabá. No local, conheceu uma mulher muito bonita com o nome de Teodora. Ela usava uma máscara de fantasia, que o impossibilitava em ver o rosto dela completamente.

Em meio a danças e abraços, a misteriosa mascarada perguntou ao seu par pelas horas. Alcebíades lhe respondeu que ainda era cedo, faltavam 15 minutos para meia-noite. Mas Teodora dizia que já era hora de ir embora e rapidamente se dirigiu para a saída do clube. Como chovia muito, Alcebíades chamou um táxi e emprestou o próprio casaco para a moça não se molhar. Ele acompanhou a jovem no trajeto para casa.

Teodora solicitou ao taxista que seguisse para a rua Batista das Neves, centro da capital. Dentro do carro, o jovem pediu que a misteriosa mulher tirasse a máscara, mas ela se negava a descobrir o rosto. Chegando na tal rua, o carro parou em frente ao Cemitério Nossa Senhora da Piedade. Assustado, Alcebíades perguntou: " Você mora no cemitério?". "Sim, moro", respondeu Teodora, saindo do carro e indo direto para o portão do cemitério, que misteriosamente abriu sozinho. Ela entrou.

Sem olhar para trás, Alcebíades saiu em toda velocidade no carro. No outro dia, inconformado, ele acabou retornando ao Cemitério da Piedade. Foi ao encontro do zelador que lhe mostrou o registro de sepultamentos. Lá estava Teodora. Ela havia sido sepultada há cinco anos. Ainda assim, o jovem quis ver a sepultura. No local, além do retrato estampado na lápide, Alcebíades encontrou o casaco que havia emprestado para Teodora, em cima do túmulo. Era a namorada do além.

Confira acima um vídeo narrado pelo historiador Anibal Alencastro sobre a lenda da 'Namorada do Além'.

Lendas e mitos

"São histórias e relatos da nossa cuiabania que vão passando. Quando o assunto é assombração, todos têm uma história fantástica ou misteriosa para contar", afirmou o historiador Aníbal Alencastro. Essa, por exemplo, ocorreu na década de 50. Para Alencastro, muitas dessas histórias já fazem parte do folclore brasileiro, algumas são próprias da zona rural e outras são mais urbanas. Isso estaria ligado diretamente à tradição e ao universo cultural. Lendas como essa se perpetuam na sociedade cuiabana.

Em Cuiabá, tradicionalmente as famílias tinham o costume de se reunirem nas portas das casas para contar histórias de assombração. Os inúmeros relatos da época geravam medo e mexiam com o imaginário do povo. Segundo o historiador, a grande contribuição para as famosas "aparições", relatadas pelas pessoas, estava na falta de iluminação pública nas ruas das cidades e bairros. "Havia pouca luz e o que tinha era muita fraca. As pessoas viam coisas e achavam que eram fantasmas, assombração. Por isso, sempre alguém contava que tinha visto mula-sem-cabeça, mulher de branco, lobisomem", explicou.

Anibal Alencastro ressaltou que essa cultura era mais intensa na zona rural. A falta de infra-estrutura e o difícil acesso que as pessoas tinham, na época, às cidades, resultava na prática de diversos rituais no dia-a-dia. Entre eles, contar histórias de assombração.

Lugares mal-assombrados

Em Cuiabá, existem diversos casarões e lugares antigos conhecidos tradicionalmente por serem mal-assombrados. Ainda há, nos dias de hoje, gente que escuta vozes e passos no prédio da Prefeitura de Cuiabá. Em um dos departamentos teria sido o Dops (Departamento de Ordem Política e Social) onde várias mortes ocorreram.

Pessoas relatam que ao passarem à noite pela antiga casa da professora Ana Maria do Couto, conhecida como May do Couto, no Centro de Cuiabá, gritos podem ser ouvidos. Uma das explicações populares é que ela tinha câncer e acabou morrendo na própria residência. Ao passar em frente da casa, as pessoas acabam escutando gritos de dor e gemidos da May Couto, motivados pela doença.

Conforme o historiador Aníbal Alencastro, o mito se dá pelo fato da capital ser uma cidade muito antiga, cheia de lendas e histórias. As pessoas são influenciadas pelo medo e pavor de determinados lugares, que ouviram falar que são mal-assombrados e dizem ver e ouvir coisas.

Resgate cultural

Com o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, as famosas histórias passadas de pais para filhos estão se perdendo no tempo. Alencastro acredita que a modernidade é a colaboradora para que a cultura oral, dos mitos e lendas, fiquem apenas nos livros. O que antes era motivo de reunião familiar, acabou se tornando papo de "gente doida".

"Precisamos resgatar os nossos contos e lendas. Isso é algo muito bonito e auxilia na nossa cultura", disse o historiador Aníbal Alencastro, que está escrevendo um livro sobre histórias e relatos de assombrações em Mato Grosso. (KM)

Redação da TVCA

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