Esta pergunta me foi feita num grande evento na cidade de
Ribeirão Preto. Cerca de 2 mil, empresários, personalidades de sucesso. E
minha missão era responder o que eu aprendi, a partir de tantas
adversidades sobre a vida, os negócios, a felicidade e o tal do sucesso.
Pergunta fácil, resposta difícil. Muita curiosidade de todos, e minha
também. Os aprendizados da vida são constantes, mas transformá-los numa
peça pedagógica é bem complicado. E o mais complexo de tudo é que não
paramos de aprender, e como não chegamos ao final da linha da vida,
algumas conclusões antecipadas podem ser totalmente equivocadas.
Por isso sábios gregos já conjecturavam que sucesso e felicidade eram
coisas só possíveis de serem auferidas após a morte. Diziam eles que
alguma coisa que ocorresse um minuto antes da morte de uma pessoa
poderia transformar tudo o que se havia imaginado como sucesso em
fracasso e, mesmo uma vida que poderia ser considerada uma derrota, numa
grande vitória.
Mas vamos ver por partes. Pegar períodos e fases já concluídas. O que
aprendi como menino, com o rosto queimado? Aprendi que o maior
preconceito do mundo é aquele que formamos e forjamos dentro dos nossos
sentimentos. Aprendi que Bullying agride, mas também ensina a
resistência, a defesa, e nos prepara para provocações muito mais sutis,
ferinas e mesmo polidas, no futuro. E ainda mais, reparei ao longo de
todos esses anos que aqueles que mexeram com as queimaduras do meu rosto
rindo e apontando foram poucos, mas esses eram sempre os feios, muito
feios geneticamente falando, nunca bonitos!
Aprendi enquanto menino que podemos fazer grandes e espetaculares
amigos, e que nossas deficiências aparentes e físicas não nos impedem de
termos uma vida feliz, intensa e de brincar com tudo e com todos.
Enquanto criança nos hospitais públicos por onde passei, anos e anos
semi-internado, dos 4 até os 16 anos, aprendi que existem sofrimentos
imensos, mas existem seres humanos sensacionais que conseguem fazer de
um fim de vida um exemplo de carinho e amor. Vi e senti olhares plenos
de amor e de solidariedade de gente humilde.
Senti a força de corajosos, e ouvi conselhos dignos e sensacionais
sobre a vida. Aprendi também que maldade existe, que violentos e cruéis
fazem parte de um pequeno percentual humano, e que podem vir a dominar e
influenciar muitos, se ficarem sem o contraponto, e sem a luta dos
bons. Como criança aprendi que muitas famílias podem ser nossas
famílias. Como filho adotivo aprendi que pais e mães que adotam podem
amar intensamente mais do que os biológicos.
Como jovem aprendi que a música salva. Que poder criar eleva a
autoestima e que a beleza pode ser inventada nas obras e essa beleza se
transfere mesmo para um rosto queimado como o meu. Como jovem descobri
que nos transformamos na qualidade das relações e dos ambientes onde
convivemos. Aprendi que precisamos nos expor a tudo, ou quase tudo, mas
que saber voltar aos fundamentos da Dignidade humana exige o aprendizado
e o ensinamento de valores.
Como homem descobri que mulheres belas não se apaixonam só pelos
galãs, e que mesmo com meu rosto deformado me apaixonei e fui amado por
belas mulheres. Como profissional e executivo aprendi que se
trabalharmos convictos de estarmos pensando na empresa em primeiro
lugar, nada irá possibilitar o atraso das nossas carreiras. Que se
colocarmos a sociedade, o país e o planeta acima de tudo iremos colher
de um sucesso inevitável. Pensar como dono, fundamental. Liderar com
amor e apaixonado pelas equipes promove êxitos impressionantes. Como
alto executivo aprendi que os resultados contam, mas que os meios
utilizados para atingi-los contam muito mais, ao longo do tempo. Como
professor aprendi que quanto mais posso doar mais a vida cisma de me
retornar.
Na vida aprendi que perdoar é sábio, mesmo se não pudermos esquecer. E
que esquecer pode nos salvar. Já como um velho acadêmico, escritor e
palestrante continuo aprendendo que as lições mais fundamentais são as
das crianças. Que a criança pura revela a proximidade da alma. E aprendo
todo dia com seres humanos que carregam vivas dentro de si as suas
crianças interiores, não importa sua idade física. Não existe velho para
uma alma que voa e brinca de esconde esconde e pega pega no universo.
Hoje, o maior de todos os aprendizados continua sendo a certeza das
nossas imperfeições. A consciência da nossa necessária humildade, e os
segredos do aprender a aprender com outros humanos admiráveis. Devo o
que sou a construção de retalhos humanos que foram costurados e tecidos
em mim. Desde a vida que me foi dada pela mãe biológica, pela coragem
dos imigrantes pais adotivos e pelos amigos, conhecidos e anônimos com
os quais aprendi centímetros novos no cerzir das colchas de retalho, no
patchworking que nos transformamos.
A todos convido à expulsão do medo, e um convite a pular nas ondas
mutantes dos mares das vidas, segurando pela mão, na mão de um pai
valente que espera seu filho possa um dia também saltar, conduzindo
pelas suas mãos outras crianças, outros seres e que essa corrente, esse
embate de rochas e ondas jamais seja vencido pela omissão das ostras ou
pela acomodação do limo escorregadio…
Descobri que felicidade antecede sucesso, mas que o sucesso precisa
recompensar a felicidade, que sofrimento só é sofrimento se não tivermos
um sentido e um significado que valha a pena perseguir. Amor surpreende
e revigora. Ame, como Edith Piaf ensinou… Ame. Um brinde à vida, e o
futuro que venha, e ele virá, e esse futuro vem carregado de
imprevisibilidades, recheado de acasos. Mas, como ele virá mesmo, que
venha então o futuro… Mas que nos venha pela frente. Feliz 2014!
José Luiz Tejon Megido
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