Tão envolvidos estamos com questões legais, opiniões morais e política que acabamos deixando de lado a lição maior para nossos filhos: promover o amor.
Esta
foi uma semana agitada. Impossível ficar alheio à movimentação
Feliciano-Daniela Mercury que saíram das pulsantes manifestações nas
redes sociais e chegaram à casa do telespectador no telejornal de maior
audiência da tv aberta no horário nobre. Tudo manifestação legítima e
democrática de acesso à informação, mas, nenhum amigo meu jornalista
ainda conseguiu me explicar por que mesmo que a sexualidade de uma
cantora deve ser notícia de jornal...
Sabe o que me
incomoda, como mãe? Não é o conservadorismo religioso que bombardeia de
um lado, nem é a ditadura liberal que responde do outro. Profetas
verdadeiros e falsos de todas as ideologias sempre estiveram aí,
aos montes, nas igrejas, nas praças, nos comícios. Também não é a
alienação do “pra mim tanto faz” o que mais me incomoda, prima da
abstenção nas urnas e do escudo de quem diz que “político é tudo igual”.
O
que me incomoda como mãe é enxergar a guerra cultural em que estão
inserindo nossos filhos. Cultural mesmo, não tendo a ver só com artes e
literatura, mas cultural como manifestação da nossa sociedade, do nosso mundo e do tempo em que vivemos. O que nos divide agora como sociedade é nossa posição em relação ao aborto, às drogas e à homossexualidade?
Quem
cria uma guerra tem sempre um motivo político. Quantos votos se compram
com essa tomada de posição? Quando se cria uma guerra, a gente sabe e
não é de hoje, quem morre é quem nem sabe por que foi lutar. E com essas
mortes, morre a esperança, a tolerância, o amor. Uma geração fica órfã desses valores. E nessa guerra cultural a geração que vai pagar é a dos meus filhos. É
isso que dói. Ficam cacos de informação e opinião pra tudo quanto é
lado, e as crianças catando a esmo esses “brinquedinhos” de guerra.
Deixar um menino brincar com boneca ou usar camiseta rosa, que antes
eram vistas apenas como uma oportunidade sincera de capacitá-lo
afetivamente ou de estimular a experimentação, agora viraram bandeira de
causa: ah, você é simpatizante GSL! Como-assim? Então sorte
tinham as crianças de 1950, que só brincavam de pega-pega, bicicleta e
pula-corda e vestiam apenas o brim. Uma simples camiseta era só isso,
uma roupa pra usar.
Sim,
eu sempre posso filtrar a informação, desligar a televisão, bloquear o
amigo virtual. E isso é alienação? Ou censura? Talvez seja só a forma
de resistência que sobrou, a maneira mais honesta que eu vi até agora
para tentar conduzir nossos filhos com equilíbrio à tomada de suas próprias decisões.
Eu tenho casais de amigos homossexuais que frequentam minha casa. Assim
como tenho casais de amigos heterossexuais, que frequentam nossa casa.
Minha filha de 9 anos nunca chegou ao nível de uma conversa com eles
sobre as suas respectivas opções sexuais. Acharia estranho se tivesse
conversado sobre isso com meus amigos adultos e, com certeza, se
houvesse intenção doutrinária de qualquer um deles, os homo ou os
hetero, eu os convidaria gentilmente a interrompê-la, pois não é assunto
para se ter, nesse nível, com uma criança. Ela cresce, vendo, ouvindo e
formando opinião, mas para isso precisa do tempo certo, o do
amadurecimento. Mas quando é notícia de domínio público, chega neles,
mais cedo ou mais tarde. E eles amadurecem antes da hora.
Não
quero que meus filhos acreditem que o mundo é cor de rosa. Nem da cor
do arco-íris. Quero que eles tenham condição, no ritmo do crescimento
deles, de enxergar as diferenças, de experimentar, fazer suas escolhas e
arcar com as consequências delas. São opções pessoais, de
livre-arbítrio. Se quiserem usá-las como bandeira política, o farão
quando tiverem autonomia pra isso. Hoje não quero é que a ingenuidade
deles seja usada como força-tarefa de uma guerra que nem precisaria
existir se a gente conseguisse se lembrar do que é mais importante: é
nosso o amor que a gente tem por dentro; e será nossa e só nossa a decisão do que fazer com ele, a quem entregá-lo e em nome da causa que for.
Por Adriana Teixeira
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