quinta-feira, 11 de abril de 2013

POR QUE A GENTE PAROU DE DISCUTIR O AMOR?

Tão envolvidos estamos com questões legais, opiniões morais e política que acabamos deixando de lado a lição maior para nossos filhos: promover o amor.


Esta foi uma semana agitada. Impossível ficar alheio à movimentação Feliciano-Daniela Mercury que saíram das pulsantes manifestações nas redes sociais e chegaram à casa do telespectador no telejornal de maior audiência da tv aberta no horário nobre. Tudo manifestação legítima e democrática de acesso à informação, mas, nenhum amigo meu jornalista ainda conseguiu me explicar por que mesmo que a sexualidade de uma cantora deve ser notícia de jornal...


Sabe o que me incomoda, como mãe? Não é o conservadorismo religioso que bombardeia de um lado, nem é a ditadura liberal que responde do outro. Profetas verdadeiros e falsos de todas as ideologias sempre estiveram aí, aos montes, nas igrejas, nas praças, nos comícios. Também não é a alienação do “pra mim tanto faz” o que mais me incomoda, prima da abstenção nas urnas e do escudo de quem diz que “político é tudo igual”.

O que me incomoda como mãe é enxergar a guerra cultural em que estão inserindo nossos filhos. Cultural mesmo, não tendo a ver só com artes e literatura, mas cultural como manifestação da nossa sociedade, do nosso mundo e do tempo em que vivemos. O que nos divide agora como sociedade é nossa posição em relação ao aborto, às drogas e à homossexualidade?


Quem cria uma guerra tem sempre um motivo político. Quantos votos se compram com essa tomada de posição? Quando se cria uma guerra, a gente sabe e não é de hoje, quem morre é quem nem sabe por que foi lutar. E com essas mortes, morre a esperança, a tolerância, o amor. Uma geração fica órfã desses valores. E nessa guerra cultural a geração que vai pagar é a dos meus filhos. É isso que dói. Ficam cacos de informação e opinião pra tudo quanto é lado, e as crianças catando a esmo esses “brinquedinhos” de guerra. Deixar um menino brincar com boneca ou usar camiseta rosa, que antes eram vistas apenas como uma oportunidade sincera de capacitá-lo afetivamente ou de estimular a experimentação, agora viraram bandeira de causa: ah, você é simpatizante GSL! Como-assim? Então sorte tinham as crianças de 1950, que só brincavam de pega-pega, bicicleta e pula-corda e vestiam apenas o brim. Uma simples camiseta era só isso, uma roupa pra usar.


Sim, eu sempre posso filtrar a informação, desligar a televisão, bloquear o amigo virtual. E isso é alienação?  Ou censura? Talvez seja só a forma de resistência que sobrou, a maneira mais honesta que eu vi até agora para tentar conduzir nossos filhos com equilíbrio à tomada de suas próprias decisões. Eu tenho casais de amigos homossexuais que frequentam minha casa. Assim como tenho casais de amigos heterossexuais, que frequentam nossa casa. Minha filha de 9 anos nunca chegou ao nível de uma conversa com eles sobre as suas respectivas opções sexuais. Acharia estranho se tivesse conversado sobre isso com meus amigos adultos e, com certeza, se houvesse intenção doutrinária de qualquer um deles, os homo ou os hetero, eu os convidaria gentilmente a interrompê-la, pois não é assunto para se ter, nesse nível, com uma criança. Ela cresce, vendo, ouvindo e formando opinião, mas para isso precisa do tempo certo, o do amadurecimento. Mas quando é notícia de domínio público, chega neles, mais cedo ou mais tarde. E eles amadurecem antes da hora.


Não quero que meus filhos acreditem que o mundo é cor de rosa. Nem da cor do arco-íris. Quero que eles tenham condição, no ritmo do crescimento deles, de enxergar as diferenças, de experimentar, fazer suas escolhas e arcar com as consequências delas. São opções pessoais, de livre-arbítrio. Se quiserem usá-las como bandeira política, o farão quando tiverem autonomia pra isso. Hoje não quero é que a ingenuidade deles seja usada como força-tarefa de uma guerra que nem precisaria existir se a gente conseguisse se lembrar do que é mais importante: é nosso o amor que a gente tem por dentro; e será nossa e só nossa a decisão do que fazer com ele, a quem entregá-lo e em nome da causa que for.

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